A Reforma Tributária sobre o consumo finalmente saiu do papel, e com ela, uma pergunta que não quer calar na cabeça de milhões de empreendedores: “E o meu Simples Nacional, como fica?”.
Se você é dono de uma Microempresa (ME) ou Empresa de Pequeno Porte (EPP), respire aliviado: o Simples vai continuar.
Contudo, ele não será exatamente o mesmo. A recém-sancionada Lei Complementar nº 214/2025 muda as regras do jogo. Ela adapta o regime simplificado aos novos tributos (o IBS e a CBS) e traz uma novidade que pode mudar sua estratégia de negócios: o “Simples Híbrido”.
Vamos entender o que isso significa na prática para o seu dia a dia.
📜 O Simples Continua, Mas o DAS Muda
A boa notícia é que o Simples Nacional, conhecido por unificar impostos em uma única guia (o DAS), será mantido. O objetivo de simplificar a vida do pequeno empresário não mudou.
O que muda é a composição dessa guia.
Gradualmente, impostos que conhecemos há décadas, como o ICMS (estadual) e o ISS (municipal), além de PIS, COFINS e IPI (federais), serão substituídos. Em seus lugares, entram os novos protagonistas da Reforma Tributária:
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IBS (Imposto sobre Bens e Serviços): Unifica o ICMS e o ISS.
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CBS (Contribuição Social sobre Bens e Serviços): Unifica PIS e COFINS.
Entre 2027 e 2032, viveremos uma transição. O DAS que você paga todo mês começará a refletir essa troca, até que, em 2033, IBS e CBS estejam totalmente integrados no cálculo do seu imposto unificado.
💡 A Grande Novidade: O “Simples Híbrido”
Aqui está o ponto mais estratégico da nova lei. A LC 214/2025 cria uma escolha para o empresário. Você terá dois caminhos:
1. O Caminho Padrão: Continuar pagando tudo dentro do DAS, incluindo o IBS e a CBS, de forma unificada. É a via da simplicidade máxima.
2. O Caminho Híbrido: Optar por recolher o IBS e a CBS fora do DAS, como se fosse uma empresa do regime regular (não cumulativo).
Por que alguém escolheria o caminho que parece mais complicado? A resposta está na competitividade.
🚀 A Vantagem Estratégica: Gerando Crédito para seu Cliente
A maior vantagem do “Simples Híbrido” é a possibilidade de gerar crédito de IBS/CBS para os seus clientes.
Vamos traduzir isso:
No novo sistema, quando uma empresa do regime regular (uma indústria grande, por exemplo) compra um produto ou serviço, ela pode abater o imposto que foi pago na etapa anterior. Ela usa o imposto pago na compra como “crédito”.
Se você optar pelo “Simples Híbrido”, suas vendas para outras empresas (B2B) passam a gerar esse crédito. Na prática, você se torna um fornecedor muito mais atraente para empresas maiores, pois comprar de você ajudará elas a pagarem menos impostos.
Empresas que escolherem o caminho padrão (tudo no DAS) não gerarão esse crédito da mesma forma, o que pode fazê-las perder espaço em cadeias produtivas onde o B2B é forte.
🗓️ Fique Atento ao Calendário de Transição
Essa mudança não será da noite para o dia, mas algumas obrigações começam logo.
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2026 (Período de Testes): As empresas do Simples não são obrigadas a participar dos testes iniciais do IBS (0,1%) e CBS (0,9%). Contudo, já devem começar a preparar seus sistemas de nota fiscal, pois em casos de devolução de mercadorias, será preciso destacar os novos impostos.
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A partir de 2027 (Início da Cobrança): Esta data é crucial. Mesmo que você não opte pelo modelo híbrido, a partir de 2027 será obrigatório destacar o valor do IBS e da CBS nas suas notas fiscais eletrônicas. Isso é essencial para que seus clientes (do regime regular) possam tomar o crédito corretamente.
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Até 2033 (Transição Completa): Período de convivência entre os impostos antigos e novos, até a extinção total do ICMS e ISS.
🤔 Simplificar ou Competir?
A Lei Complementar 214/2025 coloca o empresário do Simples Nacional diante de uma escolha estratégica.
O “Simples Híbrido” adiciona uma camada de complexidade à gestão fiscal (exigindo o recolhimento de impostos por fora do DAS), mas, em troca, oferece uma vantagem competitiva imensa para quem vende para outras empresas.
A pergunta que você deve se fazer não é apenas “o que muda?”, mas “o que é melhor para o meu negócio?”. É hora de sentar com seu contador, analisar seu perfil de cliente (você vende mais para B2B ou B2C?) e decidir qual Simples Nacional faz mais sentido para o seu futuro.
